Por: Bárbara de Alencar
O hábito alimentar é resultado de diferentes práticas culturais, históricas e pessoais. Diariamente, nos alimentamos de acordo com nosso cotidiano cultural no qual nos inserimos revelando valores e hábitos pessoais.
Nesse contexto, o ato de alimentar-se deixa de ser consequência apenas de fenômenos biológicos, sendo resultante de um processo histórico-cultural e ambiental. Assim, pensar em promoção de hábitos alimentares saudáveis requer necessariamente o conhecimento amplo deste processo e o respeito a ele.
Mas como fazer isso? Como fugir do modelo tradicional de incentivo à alimentação saudável, baseado em aspectos essencialmente biológicos?
Essa tarefa não é fácil, estamos acostumados, desde os primeiros períodos do curso de graduação em Nutrição, a considerar o indivíduo em partes, sem compreender a situação em que ele se encontra.
As ideias positivistas, centradas na atenção à doença, acabam por restringir a alimentação humana a uma necessidade física de ingestão de nutrientes. Essa visão acaba limitando o reconhecimento da alimentação como um ato cultural e social e também distanciando o nutricionista das questões alimentares reais das pessoas e do ato humano de se alimentar, ato este, que vai muito além da proposta de tratamento/prevenção de doenças.
É necessário compreender o campo da alimentação e nutrição de forma interdisciplinar.
De acordo com Bourdieu1, o hábito alimentar corresponde à adoção de uma prática relacionada a costumes estabelecidos tradicionalmente e que atravessam gerações. Dessa forma, ao se alimentar, o indivíduo não só o faz por conta de sua sobrevivência, mas por se sentir seguro em relação às suas tradições e identidade social.
Assim, para fugir desse modelo predominantemente biológico, é necessário estudar, buscar referências em outras áreas, como na psicologia, economia, antropologia, entre outras para compreender os diferentes aspectos relacionados ao indivíduo, sua dinâmica de vida e aspectos que influenciam suas preferências alimentares.
Trazer esses aspectos para o atendimento, é de extrema importância para a efetividade de ações na área de alimentação e nutrição.
Assim, compreender a Nutrição como uma ciência interdisciplinar e ter uma visão ampliada do indivíduo, trazendo para as ações de alimentação e nutrição a humanização e a compreensão das escolhas alimentares, ajuda a aumentar a efetividade das ações de Alimentação e Nutrição e, consequentemente, superar problemas decorrentes de uma alimentação inadequada como obesidade e sobrepeso.
1 - Bourdieu P.. A distinção: crítica social do julgamento. In: Contreras J., Gracia, M.Alimentação, sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011. 406p.
Bárbara de Alencar é nutricionista, especialista em Gestão de Saúde (UnB), mestranda em Nutrição Humana (UnB) e pesquisadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN/UnB)
Fonte: Rede Nutri
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